






A novela "A Viagem" (1994) voltou à Globo para sua terceira reprise no "Vale a Pena Ver de Novo", pouco mais de 31 anos após sua estreia. Cercada de curiosidades chocantes, a obra de Ivani Ribeiro (1922-1995) estrelada por Antonio Fagundes, Christiane Torloni e Guilherme Fontes não escapou das polêmicas, porém. Seja por um possível racismo - a ausência de negros no céu - seja pela influência negativa que teria causado em crianças e adolescentes em Portugal.
No final de 1994, "A Viagem" estava em cartaz no horário nobre da TV SIC e ajudou, por outro lado, na promoção de um congresso internacional de espiritismo na capital, Lisboa, que reuniu 600 adeptos daquela religião. Mas foi acusada de influenciar duas jovens a tirarem a própria vida. "Nos recados que deixaram, elas faziam alusão à novela, a uma vingança e à vida após a morte. 'Adeus, vou fazer uma viagem', através de um bilhete assim, S., que há 15 dias vinha falando em morte, se despediu dos amigos", relatou o jornal "O Globo".
+ confira o antes e depois dos atores de 'A Viagem', 31 anos após estreia
De acordo com a diretora de um estabelecimento de jovens, tanto S. quando a outra adolescente assistiam de forma frequente "A Viagem", cujo eixo principal gira em torno da vingança pós-morte de Alexandre contra aqueles que lhe prejudicaram: o irmão, Raul (Miguel Falabella, ator que fez crítica em relação ao texto da novela), o cunhado Téo (Maurício Mattar), e o advogado Otávio (Fagundes).
Na época presidente da federação espírita, João Xavier de Almeida não acreditou que "A Viagem" tenha tido alguma influência na atitude drástica das adolescentes. "A novela é excelente e está contribuindo para abrir a cabeça dos portugueses. Desperta a atenção e a curiosidade para a doutrina", elogiou.
+ quais atores do elenco de 'A Viagem' já morreram 31 anos após estreia?
Mas esse não foi a única acusação que "A Viagem" sofreu em Portugal. As cenas ambientadas no Vale dos Suicidas, para onde foi o espírito de Alexandre, teria causado crise de pânico e medo do escuro em crianças. "Essas telenovelas cheias de fantasmas perturbam as crianças, e até os adultos ficam com medo", disparou o psiquiatra infantil Jorge Mira Coelho.
Na ocasião, janeiro de 1995, o profissional disse que atendia três crianças, com idades variando de 7 a 11 anos, que teriam desenvolvido problemas por conta da novela global, como "crise de pânico" e "medo de dormir sozinhas". "Ficam passando essa xaropada dos espíritos, e os adultos não vêem juntos para explicar o que e real e o que não é", acusou Mira Coelho.
"Para o psiquiatra, só haveria uma solução: tirar as novelas do horário nobre, passando para um período em que só os adultos assistissem", escreveu a "Folha de S.Paulo", acrescentando: "Há quatro anos, (o psiquiatra) responsabilizou a novela 'Roque Santeiro' por difundir entre as crianças o medo dos lobisomens (através do Professor Astromar, Rui Resende)".