






Rita Lee se tornou uma das grandes vozes femininas do Brasil. Muito além dos hits, as decisões corajosas que ela tomou nos primeiros anos de carreira ajudaram a pavimentar o caminho para outras mulheres.
Prova disso é uma história contada nos minutos iniciais do documentário “Ritas”, que chega aos cinemas do Brasil no próximo dia 22. A cantora, cuja morte completou dois anos recentemente, se recusou a aceitar imposições da gravadora que a contratou após a saída do grupo Os Mutantes.
“Eu cheguei lá, tinha uma mesa imensa, rodeada de machos de terno e gravata. Todos olhando pra mim. Os únicos que eu conhecia lá eram Nelson Motta e Paulo Coelho. Começou um tal de ‘olha, você tem que cantar desse jeito, essa música não, essa sim’”, relembrou Rita, em sua última entrevista em vida, exclusiva para o documentário.
Segundo Rita, a gravadora tinha uma espécie de espião, que acompanhava os shows escondido para trazer informações. No documentário, a cantora lê um dos relatórios gerados por este informante.
“Durante o tempo que estivemos acompanhando a excursão de Rita Lee em Ribeirão Preto, pudemos observar o seguinte: a cantora tem o melhor equipamento teatral do Brasil. Na véspera do show, a cantora percorreu todas as rádios da cidade, reforçando uma divulgação já previamente organizada. MAS RITA LEE NÃO FAZ SUCESSO”, dizia o texto, em letras garrafais.
Inconformada após ouvir os relatos do espião, Rita se levantou da mesa de reunião e foi embora - não sem antes dizer poucas e boas para os executivos da gravadora.
“Eu me levantei da mesa e falei: ‘olha, vocês vão tomar no cu, vocês enfiem esse grupo de trabalho no cu, porque eu vou fumar um baseado no banheiro, já tô de saco cheio de vocês, até logo, passem bem e vão se fuder!’. Aí saí da mesa, fui queimar um baseado no banheiro e terminou por aí”, relembrou Rita.
A artista foi expulsa da gravadora - e que bom! Após a dispensa, Rita foi sondada pela Som Livre, segundo ela, com “um convite pra fazer um disco totalmente livre”. O resultado? O álbum “Fruto Proibido”, verdadeiro marco da música brasileira que traz os clássicos “Agora Só Falta Você” e “Ovelha Negra”.
Em 2007, a edição brasileira da Rolling Stone elegeu o “Fruto Proibido” como o 16º melhor álbum da história da música nacional. Nos Estados Unidos, a mesma publicação considerou o disco como o 41º melhor álbum de rock da América Latina. “Após uma passagem transformadora com os ícones tropicais Os Mutantes, Rita Lee passou a maior parte dos anos 70 erguendo o trono musical no qual foi legitimamente consagrada rainha do rock brasileiro”, disse a revista.
“Esse disco é mais uma prova de que mulher, com seus ovários e útero, pode fazer rock ‘n roll. Pra turma do rock que falava que pra fazer rock tem que ter culhão: aqui, oh! É considerado, modestamente, o primeiro disco de rock brasileiro”, celebrou Rita.
O Purepeople assistiu ao documentário “Ritas” a convite da Biônica Filmes e da Primeiro Plano.